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Interessa-me na pintura criar suspeitas acerca da imagem, de tal modo que o estímulo visual do ambiente leve a apostar em identificações e interpretações mais ou menos imediatas, mais ou menos discutíveis.

O meu estilo (a que toda a situação parece adaptar-se) permite explorar combinações entre diversos conceitos contrários, obtendo imagens em que um desses conceitos acaba por prevalecer.  O conceito comum e imprescindível a todos os quadros é o de “atmosfera”, que contradiz os velhos princípios de planificação e não-representação em “abstração” — e este é, por sua vez, outro conceito igualmente imprescindível desde a estrutura geométrica inicial do quadro. Daí que, com mais frequência, os quadros concluídos pareçam representar cosmologias, explosões siderais e coisas no género ou, ainda nesse ambiente atmosférico duvidoso, pareçam representar também figuras mais ou menos inesperadas de seres estranhos — pura iconografia kitsch com costela surreal que, ainda dentro do espírito de exploração de contrários, aparece, graças a uma espécie de imitação do acaso combinada com uma imitação de premeditação.

É assim que, mantendo o mesmo princípio, as imagens resultantes da pintura são caracterizadas diferenciada e paradoxalmente de quadro para quadro.

O título refere-se a esse potencial equívoco de interpretação e às virtudes únicas da pintura enquanto crime condenável que afinal parece aqui querer ostentar pleno sucesso.

João Viana, 2019

Texto para a exposição “Fora da Lei” a decorrer até 28 de Fevereiro de 2020 no Palácio da Justiça, Porto









I am interested in painting so as to create in the mind of the viewer ideas and theories about an image in such a way that the visual stimulus of the environment leads the viewer to contemplate more or less immediate, more or less paradoxical, identifications and interpretations.

My style (which perhaps unsurprisingly seems to fit any interest) enables me to explore combinations of various contrary concepts by developing images in which one of these concepts eventually prevails. The one concept common and indispensable to all the paintings is that of "atmosphere", which contradicts the old principles of single dimensionality and non-representation in "abstraction" — which is, in its turn, another indispensable concept which flows inevitably from the initial geometric structure of the paintings. Hence, more often than not, the finished paintings seem to represent cosmologies, sidereal explosions and the like or, still in this atmospheric environment of doubt, they also seem to represent perhaps unexpected figures of strange beings — pure kitsch with a surreal side that, still within the spirit of exploring opposites, arises from some imitation of chance combined with an imitation of premeditation.

Thus, from the same starting point, the images that arise are expressed differently and paradoxically in each painting.

The title refers to this potential ambivalence of interpretation and the unique virtues of painting as a critical crime which, ultimately, seems here to want to boast of complete success.

João Viana, 2019

Text for the “Fora da Lei” exhibition to run until February 28, 2020 at the Palace of Justice, Porto

Translation Anne Fairpo